quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Caros e muito estimados leitores,

Peço imensas desculpas por não ter postado mais cedo, por razões alheias. Este blog, assim como a história vai sendo construida passo a passo, não está pré-definida, nem agendada.

Agradeço a vossa visita sempre!!!

Um beijo ao luar...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Deixaram o contacto deles na recepção do Hospital, caso fosse necessário, e foram jantar. Ela foi contando mais coisas, que faziam todo o sentido para ele agora, porque é evitava mais contactos com o Ricardo apesar da constante preocupação dela com ele, o dia específico do mês em que ela se isolava completamente, nunca trabalhando nesse mesmo dia, era o unico que ela fazia questão, o dia da morte da Cláudia, porque nunca falava dos pais.

Sentia uma raiva daquele homem que tinha tido a repugnante atitude de a deixar sózinha quando ela mais precisava, carregando no ventre uma filha de ambos. A admiração e amor por ela intensificaram-se depois daquela descoberta...
Será filho dele? - Perguntou a Cristina enquanto olhava a foto na carteira que ele trazia.
Provavelmente... Humpf, deve ter um grande pai, não haja dúvida! - Respondeu com um travo de sarcasmo na voz. - Se foi capaz de ser tão homem com uma criança que nem quis saber, não deve ser muito melhor agora. Deixa mas é isso que ainda te põe pior. - Continuou ele enquanto estacionava o carro na garagem.
Subiram até ao apartamento dele, onde comeram comida chinesa, comprada no caminho, nem um nem o outro estavam com paciência para cozinhar, apesar dele se ajeitar bem na culinária. Falaram sobre aquele dia, Cristina tinha tanta coisa para lhe contar, como conheçera Paulo, como tinha dado a volta sózinha e grávida, sobre a Cláudia. Ela chorou no colo dele até adormecer, embalada pelos carinhos que ele lhe fazia na cabeça e as lágrimas salgadas que caíam. Ambos estavam de serviço no dia seguinte de manhã, mas sabendo de antemão que ela não estaria em condições para ir trabalhar, deixou-lhe um bilhete onde dizia que arranjaria uma desculpa para a sua ausência e que lhe ligasse quando acordasse.

No dia seguinte, cansada como estava e tendo ele desactivado o despertador do telemóvel dela, dormiu até tarde. Acordou assustada mas assim que leu o seu bilhete sentiu uma paz e conforto, uma sensação de segurança por estar em casa dele. Foi até ao Hospital saber do estado do Paulo, sem saber muito bem o que dizer ou como reagir, mas tinha de ir, sentia isso.
Quando lá chegou ainda estava a descançar, e ela foi-se inteirar do estado clínico dele. Tinha o fígado maltratado, sinal de muita bebida. Foi até ao quarto e sentou-se na cadeira, pouco depois ele acordou. - Como é que te sentes?
- Um pouco tonto... Estou no Hospital? - A voz estava fraca ainda.
-Sim, tentei procurar um contacto na tua carteira mas não encontrei. Como sabias que estava a trabalhar naquela Central? - Perguntou, tentando manter um certo tom sério e distante.
- Sempre soube onde estavas estes anos todos...
- Sim? - A voz ficou fria. - Onde está a tua mulher? Deve estar preocupada a esta hora não?
- Não, não está, sou viúvo há 5 anos.
- Olha, apenas te trouxe porque o meu trabalho é cuidar de pessoas em perigo, se assim não fosse tinha-te deixado caído no chão!.
- Não és assim, nunca foste...
- Tu fizeste-me assim! Estás melhor não estás?, Cuida-te! - Deu meia volta e dirigiu-se à porta.
- Espera.... Posso-te pedir uma coisa?
- Ainda te atreves??? - Estava fula, incrédula. - O que queres afinal?
- Liga para este número, é o da minha mãe. Ela está com o Marco, não sei o que fiz ao meu telemóvel, podes-lhe só dizer que estou aqui? O marco é o meu filho.
- Preocupaste-te em saber da Cláudia? Porque havia eu de me preocupar com o teu filho quando nunca te preocupaste com a nossa???Sabes onde estive estes anos todos? És demais...
- Liga por favor.... Este é o numero, não tem telemóvel, só fixo.
- Perdes o teu tempo e esforço meu caro... A Cristina que conheçeste morreu com a TUA filha! - Saíu e assim que fechou a porta as lágrimas correram face abaixo.
Saíu do hospital a correr e foi ter com o Pedro.

continua...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte IX

- O que fazes aqui? Como vieste aqui ter nesse estado? - Um dia que tinha começado cheio de esperança de reatar a sua vida e andar para a frente, de repente tinha-se transformado em algo que nunca esperaria,parecia um filme de Hitchcock em acção. - Estás sozinho? - Perguntou ela.
- Estás...muito bem.... - Tentou ele falar, mas o alcoól entorpecia-o de um modo que apagou completamente. Pedro assistia a tudo, até que achou que se devia aproximar.
- Precisas de ajuda Cristina?
- Ajuda-me a levantá-lo e pô-lo na maca por favor. Temos de o levar para o hospital, não está nada bem. Acho que quem precisa de um wiskhy agora sou eu.... - pediu ela ao que ele acedeu. Levaram-no na ambulância e ele deu entrada, onde lhe fizeram uma lavagem ao estômago e ficou a repousar por umas horas. Ela procurou na carteira dele alguma morada ou número de telefone para contactar alguém e relatar o que se passava, porém sem sucesso. Apenas encontrou uma fotografia de uma criança com cerca de 9 anos, a idade que Cláudia teria se fosse viva. As lágrimas começaram a correr, era muita coisa para um dia só, estava dificil de levar sem sucumbir. Pedro percebera o desespero dela, e abraçou-a forte. Assim ficaram uns minutos.
- Acalma-te vá, vamos dar uma volta e apanhar um pouco de ar, vai-te fazer bem. - Pegou na mão dela e levou-a para fora daquele local e procurou um sitio calmo para se sentarem e conversarem. - Conta-me.... Prometo não interromper, está bem assim? Mas por favor fala comigo, não suporto ver-te assim.
- Nem sei por onde começar!
- Eu estou aqui, não vou fugir nem deixar-te sózinha, e espero o tempo que for. - Ela olhou para ele e as suas palavras foram o bastante. Contou tudo, sem saber se faria sentido o discurso ou não, mas contou. Sobre a infância, sobre o Paulo, e sobre a Cláudia. Tentara ser forte e contar tudo com coerência até à parte da morte dela. Parecia uma menina perdida nas lágrimas, ele estava estupefacto com tudo o que ia ouvindo, não conseguindo acreditar que uma unica mulher suportasse tanta dor, e tudo começava a fazer sentido.
- Porque nunca me contaste isto tudo antes? - Perguntou ainda chocado e incrédulo.
- O medo de voltar a perder alguém era grande demais, entendes? - Disse ela, ainda atordoada com tudo aquilo. Ela mais nada conseguiu dizer, ele não deixou.
Pedro olhou para ela, levantou-lhe a cara, limpou as lágrimas e beijou-a. Ali ficaram os dois por um bom tempo, sem noção de horas ou local, apenas ficaram entre um beijo e um abraço.
Sentia algo que nunca sentira na vida, uma sensação de proteção, um amor que a invadia, um medo de a volta do passado com a presença do Paulo fosse um sinal, mas queria que aquele momento durasse para sempre.
- Desculpa se fui criança, e não confiei em ti mais cedo Pedro.
- Não foste criança, e nada disso importa agora sim? - Disse com uma voz doce. - O que fazemos agora com ele? Que raios, também tinha de aparecer agora, não encontraste nenhum contacto?
- Não, só a foto. Mas deixá-lo no Hospital assim também não me parece uma boa solução.
- Fazemos assim, ele agora vai dormir até amanhã de manhã, logo voltamos cá e vemos o que fazemos com ele. Vamos mas é comer qualquer coisa que já o estômago ronca. - Disse a sorrir.
- Vamos sim. - Levantaram-se e depois de mais um abraço e um beijo meteram-se no carro.
continua...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VIII

Quando chegou ao restaurante, já o ele estava sentado numa mesa à sua espera.
- Atrasei-me muito? -Disse ela sentando-se depressa, não sabia como havia de o cumprimentar,esperando que assim passasse despercebida a duvida.
- Não, também acabei de chegar. Para variar, o trânsito comanda o passo, mas perdoo-te sim. - Esboçou um sorriso. - Acho que vou experimentar desta vez a espetada de lulas, o que dizes?
- Parece-me bem, e vou no mesmo. - Pediram e foram conversando, ela à espera da oportunidade certa para abordar a noite que passaram juntos, sem saber muito bem quando ela seria ou mesmo como seria. Não era fácil para alguém que desistira do amor e se convençera de que ser feliz não era algo que lhe fosse permitido. Ele foi deixando o tempo correr, na esperança que ela se manifestasse sobre o mesmo tema. Sabia que ela ao convidá-lo para almoçar era um passo em frente, já lá iam vários dias onde a distância abundava, até que perguntou:
- O convite para o almoço foi por falta de companhia, ou porque há algo a dizer? Sinto que há alguma coisa que tens para me contar, não sabes é bem como....estou certo? - O silêncio surgiu por breves momentos. - Pedro, há coisas sobre mim que precisas de saber. Não sei bem é por onde começar....
- Enquanto peço o café vais pensando,não fujas sim? - A tensão dela era evidente, mas estava decidida a não perder o momento nem a ele. O telefone dela tocou, era uma chamada da central. Não planeava atender, estava de folga mas ele insistia. - Importas-te que atenda? Não é hábito a Central ligar na minha folga, deve ser importante. - Dizia ela quase zangada com o aparelho infernal a zumbir. - Claro, atende sim, vou pedir a conta enquanto vês o que se passa.
- Estou, Cristina? - Conhecera de imediato a voz, era o Vitor, um colega.
- Desculpa ligar na tua folga, mas tenho aqui um senhor à tua procura. - Senhor? Estranho... Quem é?
- Diz que se chama Paulo Cruz, e não vem num estado muito católico.... Bem tentei explicar que não estavas, mas diz que não arreda pé enquanto não falar contigo, desculpa mas não sei o que fazer. - Q....Q...Quem? Pedro notara na sua cara o espanto, deixando-o intrigado. Ficara branca, pálida de repente, nunca a tinha visto assim. - Tu tens a certeza Vitor? - Não podia acreditar no que ouvia. - Acho melhor dares cá um pulo, está alcoolizado. - Vou para aí, dá-me meia hora.
- O que foi Crstina? Aconteceu alguma coisa? - Ficaste estranha.... - Não sabia o que fazer. Para além da curiosidade, e de pensar que tinha perdido a chance dela falar, estava acima de tudo preocupado, parecia que ela ia ter um ataque cardíaco ali mesmo!
- Espero que não seja quem eu penso.... - Articulou ela com dificuladade, as mãos tremiam, estava desnorteada com o impacto. - Não pode ser! é outra pessoa, de certeza! Só pode, não tem como....
- Tens de ir á Central, certo? Eu levo-te, não me pareçe que estejas em condições de conduzir agora. - Saíram em direcção ao carro dele,e no caminho ela parecia a leste de tudo. Sem lhe perguntar nada,mas com inumeras perguntas a quererem saltar, sabia que a resposta não seria dada, logo surgiria a altura, mais cedo do que antecipava. Quando chegaram, assim que entraram na sala de espera, deu de caras com ele. Não estava em muito bom estado realmente, o bafo a alcoól denunciava desde logo a visão, sem ser preciso dizer nada. Era ele, não acreditava nos seus olhos, há anos que não o via, mas a feição continuava a mesma.
- Paulo?.... O que fazes aqui? - disse quase sem voz. - Como me encontraste?
- Cristina,sabia que virias....
Era o pai da Cláudia. Estava com uns olhos doridos,uma voz fraca, levada pela bebida fazia um tempo. - Continuas linda, sabias? - Incréula ainda, assaltavam-lhe pensamentos que não sabia explicar. - Estás um farrapo... O que te aconteceu? - Perguntou ela.
Pedro assistia a tudo de longe,tentando apanhar peças para o puzzle que se revelava.
- Já viste? Deus castigou-me.... Disse Paulo balbuciando as palavras.
continua...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VII

- Estou, Teresa? - Cristina decidira ligar à unica amiga que sabia de tudo. - Tens alguma coisa para fazer agora?
- Não, acabei agora mesmo de levar o Diogo ao infantário, queres ir beber um café e pôr a conversa em dia?Combinamos naquela pastelaria em frente à minha casa? Sabes que ninguém bate aqueles bolos.... - Pela voz dela, sabia logo que queria desabafar, conhecia-a melhor que ninguém.
- Dá-me meia hora, pode ser? Até já então.
Estiveram horas a conversar, Cristina contou-lhe tudo o que se passava, e a amiga ouviu tudo atenta, deixando-a falar primeiro. - Já terminaste? Presumo que queiras a minha opinião. - Cristina já esperava aquela atitude de Teresa, era uma mulher frontal mas muito amiga.
- Acho que te penintencias por algo que não tem razão de ser. Já o conheces há algum tempo, melhor que qualquer outra mulher. Ajudaste-o quando se separou, deste-lhe guarida nesse período, viste a dedicação que ele tem pelo filho,sempre te tratou com respeito. - As palavras dela faziam sentido.
- Não achas que está na altura de dares uma oportunidade a ti mesma? - As palavras dela foram abrindo caminho. Despediram-se e cada uma foi à sua vida.

Pedro estava magoado mas acima de tudo confuso com aquela atitude dela. Não percebia o porquê, e decidira que iria esperar que ela se manifestasse. No dias seguintes, cada vez que se viam os olhares falavam quase por si, mas nenhum dava o primeiro passo. Ele como sempre bem disposto e brincalhão, ela concentrada no trabalho.
Não admitia mas sentia falta das conversas, da presença dele.À medida que o tempo ia passando ia-se apercebendo cada vez mais da importância que ele tinha na vida dela, e como lhe custava a decisão que havia tomado.
Achava que se continuasse assim, acabaria por perder a oportunidade que a vida lhe estava a dar, então decidiu dar o primeiro passo. Encheu-se de coragem e ligou-lhe a combinar um almoço num restaurante perto da casa dele, já là tinham ido por diversas vezes.
- Estou, Pedro? é a Cristina, tudo bem?
- Olá Cristina!!! Que surpresa boa... Está sim, e contigo? - Estava surpreso, não era costuma ela ligar. - Aque devo a honra? - disse em tom de brincadeira.
- Estava a pensar irmos almoçar ao "Comidas e delicias", o que achas da ideia? - Receosa da reacção, nem sabia bem o que dizer. - Estás disponivel ou tens coisas combinadas? Como é em cima da hora...
- Sabes que para ti estou sempre disponivel, já devias de saber. A que horas ? - Respondeu ele com um tom de sorrisinho escondido e maroto.
- Por volta das 13:30h está bem?
- Está óptimo, encontramo-nos lá então?
- Combinado! Até já. - Cristina despediu-se com uma sensação de alívio, contrariamente ao que esperava o convite tinha sido aceite.


continua...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VI

Assim que ele saíu,as lágrimas começaram a correr pela face abaixo...Como poderia contar a Pedro, o homem que amava em segredo, a culpa que carregava? O que a assombrava? Jurara a si mesma que iria fechar a porta ao passado,nunca o revelando fosse para quem fosse, mesmo que significasse perder o amor da sua vida.

Tinha sido criada por uns tios austeros, onde desde miuda carregara o fardo de criar os primos mais novos, nunca tendo podido gozar a sua infância e adolescência como uma rapariga normal. O pai estava preso por tráfico de narcóticos e a mãe tinha-se entregue ao vício da droga, perdendo-se na vida,e sabendo que não tinha condições para a criar entregou-a a uma irmã antes de morrer numa esquina por overdose. Quando pôde se livrar daquela vida, alugou um quarto que pagava com muito custo, tentando estudar e trabalhar ao mesmo tempo, na tentativa de encontrar um rumo para a sua vida.

Arranjara um namorado por quem se perdera de amores e engravidara. Quando lhe contou a boa nova teve mais uma desilusão....Para além de descobrir ser casado, assim que soube desapareceu, deixando-a sózinha com uma criança no ventre. Lutadora como era, fez de tudo para criar a sua filha, trabalhando em dois sitios diferentes para que nada lhe faltasse, deixando a Cláudia numa ama.
Uma tarde recebeu um telefonema, o mais doloroso da sua vida.... Era a ama, lavada em lágrimas, a dizer que a Cláudia tinha adormecido e que passado umas horas sem acordar estranhara e tentou acordá-la, porém sem sucesso. Cristina não acreditava no que ouvia, não podia ser, era mentira!!!! Deus não podia estar a ser tão injusto com ela, levar a sua pedra preciosa tão nova, com pouco mais de um ano, o que mais amava na vida. Por mais que voasse para lá, não chegara a tempo....

O chão fugia-lhe dos pés, a dor era demasiada para que a pudesse aguentar, e numa noite desistira de tudo. Desistira de lutar, convençera-se de que não merecia viver e quis ir para junto dela,metendo-se no carro desesperada, louca de dor e raiva, e deixou o carro seguir em frente numa curva que sabia como perigosa. Pensara que assim veria Cláudia e poderia estar perto dela, mas o destino não quis que assim fosse.

Alguém vira o acidente e chamara de imediato o INEM, que num ápice chegou ao local, fazendo de tudo para a salvar. Esteve internada três meses, dois dos quais nos cuidados intensivos em coma, e da unica coisa que se lembrava daquela noite era de uma voz que puxava por ela, com palavras de incentivo e de desafio para que não partisse. Assim que recuperou, procurou aquela voz para lhe agradecer e ficou a conhecer o serviço que ele prestava. Pelas mãos de um paramédico, descobriu qual a sua missão, a de salvar quem precisava assim como ela mesma o havia sido.

Agarrou-se a essa missão e profissão com unhas e dentes, estando disposta a tudo para isso, achando que Deus a poupara para servir como seu anjo, mas nos dias de amargura, achava que tinha sido mais um castigo, mais um dos seus designíos, onde não tinha direito a ser feliz, apenas de fazer os outros.Fechara-se ás emoções e pessoas, menos para a sua missão.
Achava que se desse mais de si e se desse a conhecer, se se permitisse a amar,acabaria por perder de novo algo querido, e não toleraria mais nenhuma perda.

continua..

sábado, 31 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte V

Uma chamada havia sido registada nos serviços para uma criança com um quadro clinico de convulsões. Depois dos procedimentos normais,a chamada tinha sido passada para eles, e os unicos disponiveis eram ambos, sendo que ela despachara os colegas em outras urgências. Enfiaram-se como balas na ambulância e a caminho do local, entre os preparos de equipamento, ele fixou-a por momentos á espera de uma resposta....

- Não me ligaste.... - disse ele com uma voz meio receosa da resposta, meio inquieta á espera da mesma. - Estamos quase a chegar Pedro, concentra-te no que temos a fazer sim? - Não era bem o que ele esperava ouvir, mas tentou concentrar-se ao máximo,eram ambos conhecidos como a melhor equipa que a Central tinha, profissionais acima de tudo. Ao chegarem lá, contrariaram a sua inimiga nº 1 e devolveram uma menina de 2 anos aos pais que choravam convulsivamente, como se eles de anjos sem asas se tratassem e no caminho de volta, ela verteu uma lágrima, que tentou a todo o custo esconder, mas que ele reparara, como sempre atento e astuto.

Sabia que vindo dela, alguma razão tinha de ser, e não apenas porque gostava do que fazia, já a vira agir em casos bem mais graves onde ela não tinha vertido uma que fosse, mas sempre que a acompanhava em casos com crianças era de uma dureza implacável, mas quando tudo terminava, algo nela se mostrava sensível, sem saber bem o porquê de ser assim. Ele bem tentava sacar-lhe algo, mas eximiamente sempre se safava da situação, era mestra nisso,dando a entender que as crianças mexiam com ela a um nivel geral, mas estava determinado em conhecer mais daquela mulher que o punha a pensar e sonhar acordado....

Não sabia grande coisa do seu passado, só o que ela ia mostrando lentamente, ia tentando criar um quadro onde faltavam muitas peças no puzzle, mas não estava disposto a desisitir, não quando sentira que a tocara no fundo. No final do turno, já de manhã, esperou por ela em frente ao seu carro e estava disposto a não sair dali sem uma resposta, sem uma explicação....

- Porque não me respondes Cristina? - perguntou ele olhando-a, tentado perceber o distanciamento depois de uma noite como a que tinham passado juntos.
- Pedro, bebemos um pouco além da conta, estava carente assim como tu, vamos deixar as coisas como estão... - respondeu com a voz trémula, sem saber bem o que lhe dizer.
- Não aceito isso como resposta, desculpa. Vamos conversar um pouco, não é possivel que tenha sido assim, sei que tens algo para me dizer e evitas sem razão, por favor....
- Amanhã falamos melhor, combinado? Estou cansada, também deves estar, não é a melhor altura, entende.... - disse ela com pouca convicção, a sua vontade era chorar desalmadamente no seu peito, mas aprendera duramente com a vida a não mostrar o seu lado mais triste, e não ia ser agora que o iria fazer....
- Olha, só saio daqui depois de me convidares a beber um café, até lá não vou a lado nenhum, mas tu também não, agora escolhe teimosa....- E ela vendo que ele estava determinado e não a iria largar, assentiu.
- Está bem.... Mas não quero ir a nenhum café, bebemos algo quente lá em casa sim? Estou uma lástima e com o frio que está, não me apetece muito. - Os olhos verdes dele brilharam como se mais uma batalha estivesse ganha.

Ambos exaustos de mais um plantão, quando se sentaram e disfrutaram do café que mais sabia a champagne em noite de fim de ano, ela começou a perguntar pelo Ricardo, como estava, se tinha falado com ele nesse dia, e ele conheceçendo-a bem , notou logo que era mais uma artimanha para evitar assuntos dela, não que ela não se preocupasse com o filho dele,mas sabia como detectar as fugas dela. Era de uma preocupação constante com ele, conheçendo o amor incondiçional que Pedro tinha por ele, era um mulherengo, um bom vivant mas quando era a hora do Ricardo nada o abalava ou detinha, tudo paráva em torno dele, era a sua fonte de inspiração e contínua luta por tudo na vida.

- Conta-me porque choraste hoje, e não mintas que eu bem vi!
- Pedro, estás a ver coisas, o cansaço deturpa-te o pensamento...
- Não vale a pena Cristina, não fujas, vá, conta-me,eu quero saber e não saio daqui sem uma resposta plausível, e olha que te apanho a mentir num instante!!!! - brincou ele na tentativa de aliviar a tensão que se sentia na altura, dada a seriedade do tema.
Ela bem foi tentando fugir, mas ele foi bem peremptório e não desistia facilmente, apontando casos em que ela mostrara os seus sinais de sofrimento, deixando-a quase sem saída....
- São coisas minhas Pedro e por favor não insistas.
- Ainda não disseste porque não me telefonaste como pedi. Depois de uma noite como a nossa, pensei que ligasses, fiquei á espera.
- Temos uma relação de amizade que não quero estragar nem perder, acho que devemos deixar as coisas ficarem assim, e tentar esquecer....
- Esquecer???? Só podes estar a brincar, não acredito que me estejas a dizer para fazer de conta que não existiu nada! - Dizia Pedro sentido, não esperava isso dela.
- Tenho as minhas razões, e não volto atrás nelas. - Cristina estava com uma voz amarga e séria, quase se sentia uma certa dor ao proferi-las, deixando-o desorientado.
- O que se passa? Diz-me! Por favor confia em mim e deixa-me conhecer-te,tens tanto medo do quê?
- Acho melhor irmos descançar, ambos estamos a precisar.... - Despachando-o e terminando a conversa dessa maneira. Notou que algo se quebrara nele, o seu olhar estava triste e longe, e doía-lhe que assim fosse, mas achava que era o melhor.
continua....

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte IV

O beijo veio como algo esperado e ansiado desde o principio da noite, que se revelara bem melhor do que o inicialmente reservado. As barreiras estavam quebradas e ultrapassadas, onde por mais palavras de afastamento que teimassem em querer surgir, perdiam o seu efeito...
Pedro foi ganhando terreno no sofá de Cristina, a musica foi tocando e eles foram-se aproximando. O seu corpo largava um cheiro a framboesa que ele foi descobrindo com os dedos, enquanto o calor da sua boca ia desbravando território, sentindo a suavidade da sua pele, permitindo-lhe mostrar um lado frágil dela a cada toque, ao mesmo tempo que a despia lentamente. Ela perdia-se no seu perfume e beijo, permitindo que ele a tomasse como sua, sem pensar no amanhã, o depois vinha depois, naquele momento ela era dele e ele dela....
Amaram-se como nunca, os seus corpos fundiram-se num só, os suores e arrepios foram consentidos e partilhados, as entregas foram totais, os beijos intemporais, ela havia entregue os seus seios volumosos mas bem enquadrados na sua figura, o seu interior a Pedro, e ele rejubilara com isso, desejava-a como nunca havia desejado uma mulher, e sentia-se feliz, por ter amado e tomado a mulher que amava.
Depois do momento de loucura que haviam partilhado,olharam um para o outro, e sem palavras para o descrever,aninharam-se um no corpo do outro, ela sentia uma paz e segurança nunca sentida, ele um amor avassalador que quase o esmagava, deixando-o até perdido por segundos, e abraçados adormeceram....
A manhã já ia bem avançada quando Cristina acordou,e deu consigo sózinha. Sentou-se na cama, onde tinha a noite terminado, e ficou uns bons minutos a tentar organizar as ideias, a tentar digerir tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Vestiu o seu robe e dirigiu-se á cozinha para preparar a sua torrada com manteiga e doce de tomate. Ao lá chegar deu com uma mesa preparada com requinte,com tudo pronto,à espera dela. Em cima da mesa encontrava-se um bilhete de Pedro ao lado da túlipa oferecida por ele:
" Liga-me quando acordares, um beijo de saudade..."
Comeu algo á pressa e vestiu o fato de treino, calçou os ténis, pegou nas chaves do carro e rumou ao ginásio, como era habitual. Acordara tarde mas ainda ia a tempo e naquela manhã, tinha motivos de sobra para lá ir, funcionava mais como uma espécie de terapia do que uma necessidade para ela. A musica puxava por ela,umas vezes pelo excesso cometido naquele doce que a tirava do sério, outras no aliviar do stress e raiva acumulados por este ou por aquele motivo, como um limpar e lavar de alma pesada que por vezes injustamente carregava.Não precisava, tinha uma figura de fazer inveja a mulheres mais novas,onde qualquer peça de roupa caíam como uma luva, mas que gostava de manter. Tinha tido uma noite de sonho mas não se sentia digna ou merecedora de tal, e como penintência ia puxar ainda mais do que o normal, não atendendo ao pedido dele de lhe ligar.
Sabia que daí a poucas horas teria de o ver forçosamente, a profissão assim o obrigava,e por mais vontade que o coração dela tivesse,a ilusória razão achava incorrecto que assim se sentisse. Entrou na Central, e como sempre recebeu os normais cumprimentos. Foi-se fardar e buscar as fichas diárias, e ao entrar na sala de lazer, deu de caras com Pedro sentado numa mesa com um café e um pastel de nata em frente.
- Já bebeste café? - Perguntou ele puxando a cadeira em frente a ele. - Senta-te e bebe um descançada,cheira-me que vamos ter um turno dos diabos....
- Agradeço mas já bebi na rua, vou ver como estamos de pessoal hoje, tenho de coordenar tudo para não falhar. - Esquivando-se assim do confronto.
Ele deixou passar, sabia que tinham outras pessoas de roda que ao minimo deslize apanhariam os olhares cumplices dos dois, esperando apanhá-la sózinha assim que a oportunidade surgisse. E ela surgiu horas mais tarde...
continua....

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte III

O cd de Sinatra tocava na sala,tinha uma colecção invejável de cds dos mais variados estilos possiveis,passando rapidamente de uma compilação feita pelos seus djs preferidos para algo mais nostáligo, conforme o humor que sentisse na altura. Ganhava considerávelmente bem, mas não era pessoa de grandes luxos,mas sempre que fosse á Fnac trazia algo novo, fossem livros ou cds.
Esforçava-se para conter as lágrimas, não se ia permitir abalar mais uma vez, e tentava convençer-se de que era normal haver dias em que nem sempre se conseguia levar a bom porto o esforço empenhado, mas a sua sensibilidade acima da média não a permitia desfrutar da noite como gostaria. Empenhava-se para que tal não acontecesse, debruçada sobre mais um livro de culinária novo que havia adquirido, tentando preparar algo sublime,na tentativa de se descontrair com um paladar diferente do habitual, mas sózinha o alento não era o mesmo.... E o telemóvel mais uma vez tocara, era uma sms do Pedro, que dizia algo simples:
"Queres companhia?" - Lutou consigo mesma durante uma meia hora sobre se havia de responder que sim ou que não, mas não resisitiu...
" Já jantaste?" - Estava e sentia-se derrotada, precisava de sentir uma voz amiga, de ver um olhar meigo, que conhecia como poucas que haviam tido a mesma sorte.Muitas das vezes em ocasiões daquelas manteria a desculpa esfarrapada, mas não daquela vez. Ele devolveu a sms em seguida com um não,ao que ela respondeu de volta:
"Vens?" - Minutos depois Pedro enviou um "estou a caminho...." e sem querer pensar muito nisso esperou a sua chegada. Foi pondo a mesa, e o cheirinho inebriante foi-se soltando do que estava a acabar de apurar. A campainha tocou e ela abriu a porta.
Pedro vinha de tulipa branca na mão, e num gesto estendeu a flor oferecendo-a. Sabia que lhe ia quebrar logo a barreira de gelo que lhe era característica nessas ocasiões.
-Como sempre, um cavalheiro.... - O sorriso dela estava conquistado pensava ele, meio caminho andado para a alegrar.
- Como sempre, um cheirinho divinal.... - Dizia ele enquanto entrava e despia o casaco. - O que estás a fazer?
- Estou a experimentar algo novo, vais ser a minha cobaia hoje, o que vale é que ambos sabemos o que fazer em caso de intoxicação alimentar, brincou ela, e enquanto ele mudava a musica, tinha confiança para isso, pôs algo mais alegre mas romântico dentro do mesmo artista, e sentaram-se a jantar.
Ao longo da refeição falaram de tudo menos do que tinha acontecido naquele dia, ele contou-lhe as peripécias que havia tido com o filho no Oceanário, ela ouvia atenta, e ele foi puxando subtilmente por ela, sobre o que a fazia ser tão reservada e ela ia escapando, sem nunca deixar escapar os pontos chave, enquanto ele bebia as suas palavras, perdido no brilho que os olhos dela tinham,nas suas formas que se insinuavam debaixo do fato de treino justo que ela tinha vestido,simples mas denunciador, deixando-se ir embalado na sua voz, onde a barreira entre a amizade e o desejo ficava cada vez mais pequena,sentia que ela por mais que tentasse esconder ou evitar sentia o mesmo....
À medida que a noite ia avançando, o vinho ia sendo servido, a refeição apreciada e as palavras e risadas iam sendo trocadas, tornava-se para ela cada vez mais dificil esconder que sentia a mesma vontade, o mesmo ardôr, o mesmo impulso que havia sentido outrora, como na noite em que ambos inebriados pelo ambiente e embriagados haviam trocado beijos ardentes e doces, carentes de afecto e calor humano, ambos maltratados pela vida e pelo amor,nunca falaram sobre ela depois, mas hoje sentia-se mulher acima de tudo, com as fraquezas normais....
Foi fugindo ás subtis investidas dele, evitando a todo o custo o olhar de frente, sabendo que acabaria por não resistir, e pensou que se assim fosse estaria segura de si mesma. O jantar terminou e foram para a sala conversar mais um pouco, estavam de plantão apenas de tarde no dia seguinte, não haveriam desculpas de relógios a comandar nem ele aceitaria isso como escapatória para se despedir mais cedo do que ele desejava. Já a noite se alongava pela madrugada quando ele sem pedir licença se aproximou dela e a beijou....
continua....

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte II

Pedro tinha-a convidado para jantarem juntos naquele restaurante italiano que ela adorava, para um Tagliateli e um Chianti seguido de um Tiramissú, para conversarem um pouco, na tentativa de a distrair e abstraír-se do dia carregado de emoções que tinham partilhado. Cristina agradeçera gentilmente o convite mas recusara, ao que ele insistiu...

- Então e se for apenas para bebermos um café depois do jantar? Vai-te fazer bem, rimos um pouco, falamos de coisas sem importância, posso-te contar como foi a minha cruzada no Oceanário com o Ricardo... - Tentou puxar por ela, adivinhando o seu serão, mas sem grande sorte.

- Pedro, és um querido mas hoje tenho coisas para fazer em casa, tenho papelada por arrumar e tenho de ir a casa da minha irmã depois do jantar, fiquei de lá passar. - Tanto ele como ela sabiam que a desculpa dela era tão fraca como a convicção com que ela o dissera, mas ele sabia bem que quando ela fugia assim, não servia de nada insistir.

Pedro era um homem também na casa dos trinta, de cabelo curto sempre com um penteado rebelde realçado com gel, tez morena e olhos verdes magnetizantes,dos quais escapava um toque malandro e sorridente, fatal e irresistivel, porém meigom mas apenas para quem o merecia e ele o deixava mostrar. Tinha um porte alto e muito bem constituido,a natação e o raguebi assim o moldavam,e tinha um brio na escolha da indumentária, simples e casual, mas cuidada.Tantas vezes usava a farda obrigatória, a qual vestia com gosto,mas quando a dispensava em dias de folga, alternava entre o casual e o desportivo, que lhe assentavam como uma luva. Alvo de muitas das meninas que lhes encaminhavam os casos, mas a quem não passava cartão, o seu coração não o deixava nem queria, estava demasiado dorido, saíra de uma relação conturbada onde a unica coisa boa que restara era o seu motivo de viver e lutar, o Ricardo.

Tantas vezes tinham jantado juntos como amigos, onde ela lhe confidenciara alguns dos seus segredos e ele fizera o mesmo, onde não havia a hierarquia em causa, apenas duas pessoas que partilhavam experiências de vida mais ou menos boas, gostos sobre musica e temas como politica ou simples actos das pessoas, assunto que era do interesse de ambos , jantares que fluíam como o vinho servido em cada cálice, adoçados pelas palavras e sorrisos fugitivos que por vezes deixavam escapar uma cumplicidade fora do comum a simples amigos,mas que não ousavam revelar ou falar sobre eles, assim como pelas sobremesas magnificas que ambos escolhiam, sabendo já de antemão a preferência de cada um.

Ele esperava que mais uma vez a levasse a sair, e que a conseguisse pôr a falar sobre ela mesma mas era dificil, apenas em alturas imprevisíveis ela revelava algo dela, e sabia bem o porquê de assim ser... Mas naquele dia não, naquela noite não, ela não queria estar rodeada de gente, queria estar sossegada num local amistável, na sua casa decorada com um estilo muito próprio, muito seu.As velas abundavam, a média luz e tons quentes aqueciam o local, poucas fotografias se encontravam, em cada recanto notava-se um pouco da maneira de ser dela. Uma sala ampla com móveis negros e adornos em vermelho e branco,onde o contraste do imaculado e puro se misturava com a sensualidade do vermelho e do negro, com cheiros agradáveis e envolventes que emanavam das essências que queimava assim que chegasse ao lar.

Pedro conhecia-os bem e encantavam-lhe, aquele lado tão pouco conhecido e explorado dela, onde tinham passado serões inteiros a onversar,quando ele em tempos menos bons recorrera ao santuário dela,onde por vezes o James Martins 30 anos falava mais alto, acabando no sofá em seguida, que ela preparava com carinho e o tapava com doçura.

Cristina estava triste, sentia-se com raiva dela mesma, por não ter conseguido salvar alguém que poderia ter continuado uma vida repleta de tudo, fosse ele bom ou não, mas que assim o fosse...Em dias assim,a alegria efusiasta que lhe era inata perdia o seu poder, deixando a máscara de menina perdida surgir. Pensava no seu intímo que deveria de ter sugerido a Pedro jantarem lá em casa, ela poderia preparar algo bom para ambos, mas estava fraca demais para se sentir em condições de combater a sua timidez extrema, e não o fez. Enquanto abria a garrafa de vinho tinto e deixava o seu néctar respirar e assentar, o seu telemóvel apitava. Uma mensagem. Pensou ser mais algum amigo a pedir conselhos como tantas vezes acontecia, nem ligou. Não estava para ninguém,a sua vertente de psicóloga amadora naquele momento estava mais para ocupadora de divã do que para apontadora de notas. Mas o telemóvel insistia...

continua....

sábado, 24 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos...

Mais um dia que passava, mais uma noite que se apresentava,mais uma refeição preparada a preceito, mais uma aventura com um final triste. Depois de um dia dificil, nada como chegar a casa, tomar um bom banho e ficar de molho sem pensar em nada, deixar o pensamento fluir como as bolinhas de sabão provocadas pelos seus movimentos, gozar aqueles minutos saborosos e calmantes e sentir-se leve.

Recebera um convite para jantar mas naquele dia não, naquela noite não estava com vontade de ver ninguém ou conviver trivialmente,queria paz e sossego, desfrutar de um bom vinho tinto na companhia do seu fiel amigo canino, que se mostrava sempre deliciado com a sua chegada a casa, ao som de Frank Sinatra.

Quem conhecia Cristina, diria que era uma mulher de bem com a vida, a quem tudo corria pelo melhor, que tinha uma estrela que a protegia como se lhe desse livre acesso ás coisas boas da vida. Era uma mulher na casa dos trinta, morena e com uns olhos castanhos brilhantes, expressivos. Tinha uns cabelos cor de fogo invejáveis, que cuidava com muito afinco e dedicação, formas trabalhadas no ginásio e uma voz quente e meiga.

Era uma pessoa alegre e muito bem disposta, que trabalhava horas a fio em algo que adorava,chegando a exagerar no zelo e exaustão fisica.Sendo responsável por uma equipa de urgência médica, fazia turnos uns a seguir dos outros, onde punha tudo de si a cada vez que saía para a rua em auxílio de alguém, muitas vezes com uma sandes no estômago, mas que não lhe abalava a vontade de se sentir util ou necessária. Muito respeitada, conquistara a posição que tinha a pulso, com alguns dissabores pelo caminho, afinal, era uma mulher a liderar vários homens, mas que compensara, era vista como alguém a seguir, profissional mas que sabia brincar e rir nas horas certas.

Tinha tido um dos piores dias que a sua profissão acarretava, alguém tinha perdido na batalha entre a vida e a morte, onde a ultima tinha ganho mais uma vítima, a quem nem ela nem os seus colegas conseguira chegar a tempo de evitar o pior, por mais esforços que fizessem. Esses dias deitavam-na abaixo completamente, mas nunca deixava transparecer, sabia-os como ossos do ofício, mas que nem por isso concordava com eles ou os aceitava. Apenas quem a conhecia muito bem,a quem ela permitia se deixar a conhecer, sabia que por detrás daquele "está tudo bem" acompanhado de um sorriso, escondia-se uma menina com um sentimento de perda e impotência terríveis,que custavam a passar.

Pedro conhecia-a melhor que ninguém, e ela nem precisava de falar... Bastava um simples olhar perdido dela, que ele apanhava como uma réstia de vento que rapidamente passara e partira. Por mais que ela tentasse esconder, não conseguia nem podia, apesar de não partilharem uma amizade de anos, ele sabia sempre quando ela estava bem ou mal, quando queria rir ou chorar, quando queria ser criança ou se recriminava por algo, quando procurava a perfeição onde ela não podia existir.

continua...