quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Caros e muito estimados leitores,

Peço imensas desculpas por não ter postado mais cedo, por razões alheias. Este blog, assim como a história vai sendo construida passo a passo, não está pré-definida, nem agendada.

Agradeço a vossa visita sempre!!!

Um beijo ao luar...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Deixaram o contacto deles na recepção do Hospital, caso fosse necessário, e foram jantar. Ela foi contando mais coisas, que faziam todo o sentido para ele agora, porque é evitava mais contactos com o Ricardo apesar da constante preocupação dela com ele, o dia específico do mês em que ela se isolava completamente, nunca trabalhando nesse mesmo dia, era o unico que ela fazia questão, o dia da morte da Cláudia, porque nunca falava dos pais.

Sentia uma raiva daquele homem que tinha tido a repugnante atitude de a deixar sózinha quando ela mais precisava, carregando no ventre uma filha de ambos. A admiração e amor por ela intensificaram-se depois daquela descoberta...
Será filho dele? - Perguntou a Cristina enquanto olhava a foto na carteira que ele trazia.
Provavelmente... Humpf, deve ter um grande pai, não haja dúvida! - Respondeu com um travo de sarcasmo na voz. - Se foi capaz de ser tão homem com uma criança que nem quis saber, não deve ser muito melhor agora. Deixa mas é isso que ainda te põe pior. - Continuou ele enquanto estacionava o carro na garagem.
Subiram até ao apartamento dele, onde comeram comida chinesa, comprada no caminho, nem um nem o outro estavam com paciência para cozinhar, apesar dele se ajeitar bem na culinária. Falaram sobre aquele dia, Cristina tinha tanta coisa para lhe contar, como conheçera Paulo, como tinha dado a volta sózinha e grávida, sobre a Cláudia. Ela chorou no colo dele até adormecer, embalada pelos carinhos que ele lhe fazia na cabeça e as lágrimas salgadas que caíam. Ambos estavam de serviço no dia seguinte de manhã, mas sabendo de antemão que ela não estaria em condições para ir trabalhar, deixou-lhe um bilhete onde dizia que arranjaria uma desculpa para a sua ausência e que lhe ligasse quando acordasse.

No dia seguinte, cansada como estava e tendo ele desactivado o despertador do telemóvel dela, dormiu até tarde. Acordou assustada mas assim que leu o seu bilhete sentiu uma paz e conforto, uma sensação de segurança por estar em casa dele. Foi até ao Hospital saber do estado do Paulo, sem saber muito bem o que dizer ou como reagir, mas tinha de ir, sentia isso.
Quando lá chegou ainda estava a descançar, e ela foi-se inteirar do estado clínico dele. Tinha o fígado maltratado, sinal de muita bebida. Foi até ao quarto e sentou-se na cadeira, pouco depois ele acordou. - Como é que te sentes?
- Um pouco tonto... Estou no Hospital? - A voz estava fraca ainda.
-Sim, tentei procurar um contacto na tua carteira mas não encontrei. Como sabias que estava a trabalhar naquela Central? - Perguntou, tentando manter um certo tom sério e distante.
- Sempre soube onde estavas estes anos todos...
- Sim? - A voz ficou fria. - Onde está a tua mulher? Deve estar preocupada a esta hora não?
- Não, não está, sou viúvo há 5 anos.
- Olha, apenas te trouxe porque o meu trabalho é cuidar de pessoas em perigo, se assim não fosse tinha-te deixado caído no chão!.
- Não és assim, nunca foste...
- Tu fizeste-me assim! Estás melhor não estás?, Cuida-te! - Deu meia volta e dirigiu-se à porta.
- Espera.... Posso-te pedir uma coisa?
- Ainda te atreves??? - Estava fula, incrédula. - O que queres afinal?
- Liga para este número, é o da minha mãe. Ela está com o Marco, não sei o que fiz ao meu telemóvel, podes-lhe só dizer que estou aqui? O marco é o meu filho.
- Preocupaste-te em saber da Cláudia? Porque havia eu de me preocupar com o teu filho quando nunca te preocupaste com a nossa???Sabes onde estive estes anos todos? És demais...
- Liga por favor.... Este é o numero, não tem telemóvel, só fixo.
- Perdes o teu tempo e esforço meu caro... A Cristina que conheçeste morreu com a TUA filha! - Saíu e assim que fechou a porta as lágrimas correram face abaixo.
Saíu do hospital a correr e foi ter com o Pedro.

continua...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte IX

- O que fazes aqui? Como vieste aqui ter nesse estado? - Um dia que tinha começado cheio de esperança de reatar a sua vida e andar para a frente, de repente tinha-se transformado em algo que nunca esperaria,parecia um filme de Hitchcock em acção. - Estás sozinho? - Perguntou ela.
- Estás...muito bem.... - Tentou ele falar, mas o alcoól entorpecia-o de um modo que apagou completamente. Pedro assistia a tudo, até que achou que se devia aproximar.
- Precisas de ajuda Cristina?
- Ajuda-me a levantá-lo e pô-lo na maca por favor. Temos de o levar para o hospital, não está nada bem. Acho que quem precisa de um wiskhy agora sou eu.... - pediu ela ao que ele acedeu. Levaram-no na ambulância e ele deu entrada, onde lhe fizeram uma lavagem ao estômago e ficou a repousar por umas horas. Ela procurou na carteira dele alguma morada ou número de telefone para contactar alguém e relatar o que se passava, porém sem sucesso. Apenas encontrou uma fotografia de uma criança com cerca de 9 anos, a idade que Cláudia teria se fosse viva. As lágrimas começaram a correr, era muita coisa para um dia só, estava dificil de levar sem sucumbir. Pedro percebera o desespero dela, e abraçou-a forte. Assim ficaram uns minutos.
- Acalma-te vá, vamos dar uma volta e apanhar um pouco de ar, vai-te fazer bem. - Pegou na mão dela e levou-a para fora daquele local e procurou um sitio calmo para se sentarem e conversarem. - Conta-me.... Prometo não interromper, está bem assim? Mas por favor fala comigo, não suporto ver-te assim.
- Nem sei por onde começar!
- Eu estou aqui, não vou fugir nem deixar-te sózinha, e espero o tempo que for. - Ela olhou para ele e as suas palavras foram o bastante. Contou tudo, sem saber se faria sentido o discurso ou não, mas contou. Sobre a infância, sobre o Paulo, e sobre a Cláudia. Tentara ser forte e contar tudo com coerência até à parte da morte dela. Parecia uma menina perdida nas lágrimas, ele estava estupefacto com tudo o que ia ouvindo, não conseguindo acreditar que uma unica mulher suportasse tanta dor, e tudo começava a fazer sentido.
- Porque nunca me contaste isto tudo antes? - Perguntou ainda chocado e incrédulo.
- O medo de voltar a perder alguém era grande demais, entendes? - Disse ela, ainda atordoada com tudo aquilo. Ela mais nada conseguiu dizer, ele não deixou.
Pedro olhou para ela, levantou-lhe a cara, limpou as lágrimas e beijou-a. Ali ficaram os dois por um bom tempo, sem noção de horas ou local, apenas ficaram entre um beijo e um abraço.
Sentia algo que nunca sentira na vida, uma sensação de proteção, um amor que a invadia, um medo de a volta do passado com a presença do Paulo fosse um sinal, mas queria que aquele momento durasse para sempre.
- Desculpa se fui criança, e não confiei em ti mais cedo Pedro.
- Não foste criança, e nada disso importa agora sim? - Disse com uma voz doce. - O que fazemos agora com ele? Que raios, também tinha de aparecer agora, não encontraste nenhum contacto?
- Não, só a foto. Mas deixá-lo no Hospital assim também não me parece uma boa solução.
- Fazemos assim, ele agora vai dormir até amanhã de manhã, logo voltamos cá e vemos o que fazemos com ele. Vamos mas é comer qualquer coisa que já o estômago ronca. - Disse a sorrir.
- Vamos sim. - Levantaram-se e depois de mais um abraço e um beijo meteram-se no carro.
continua...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VIII

Quando chegou ao restaurante, já o ele estava sentado numa mesa à sua espera.
- Atrasei-me muito? -Disse ela sentando-se depressa, não sabia como havia de o cumprimentar,esperando que assim passasse despercebida a duvida.
- Não, também acabei de chegar. Para variar, o trânsito comanda o passo, mas perdoo-te sim. - Esboçou um sorriso. - Acho que vou experimentar desta vez a espetada de lulas, o que dizes?
- Parece-me bem, e vou no mesmo. - Pediram e foram conversando, ela à espera da oportunidade certa para abordar a noite que passaram juntos, sem saber muito bem quando ela seria ou mesmo como seria. Não era fácil para alguém que desistira do amor e se convençera de que ser feliz não era algo que lhe fosse permitido. Ele foi deixando o tempo correr, na esperança que ela se manifestasse sobre o mesmo tema. Sabia que ela ao convidá-lo para almoçar era um passo em frente, já lá iam vários dias onde a distância abundava, até que perguntou:
- O convite para o almoço foi por falta de companhia, ou porque há algo a dizer? Sinto que há alguma coisa que tens para me contar, não sabes é bem como....estou certo? - O silêncio surgiu por breves momentos. - Pedro, há coisas sobre mim que precisas de saber. Não sei bem é por onde começar....
- Enquanto peço o café vais pensando,não fujas sim? - A tensão dela era evidente, mas estava decidida a não perder o momento nem a ele. O telefone dela tocou, era uma chamada da central. Não planeava atender, estava de folga mas ele insistia. - Importas-te que atenda? Não é hábito a Central ligar na minha folga, deve ser importante. - Dizia ela quase zangada com o aparelho infernal a zumbir. - Claro, atende sim, vou pedir a conta enquanto vês o que se passa.
- Estou, Cristina? - Conhecera de imediato a voz, era o Vitor, um colega.
- Desculpa ligar na tua folga, mas tenho aqui um senhor à tua procura. - Senhor? Estranho... Quem é?
- Diz que se chama Paulo Cruz, e não vem num estado muito católico.... Bem tentei explicar que não estavas, mas diz que não arreda pé enquanto não falar contigo, desculpa mas não sei o que fazer. - Q....Q...Quem? Pedro notara na sua cara o espanto, deixando-o intrigado. Ficara branca, pálida de repente, nunca a tinha visto assim. - Tu tens a certeza Vitor? - Não podia acreditar no que ouvia. - Acho melhor dares cá um pulo, está alcoolizado. - Vou para aí, dá-me meia hora.
- O que foi Crstina? Aconteceu alguma coisa? - Ficaste estranha.... - Não sabia o que fazer. Para além da curiosidade, e de pensar que tinha perdido a chance dela falar, estava acima de tudo preocupado, parecia que ela ia ter um ataque cardíaco ali mesmo!
- Espero que não seja quem eu penso.... - Articulou ela com dificuladade, as mãos tremiam, estava desnorteada com o impacto. - Não pode ser! é outra pessoa, de certeza! Só pode, não tem como....
- Tens de ir á Central, certo? Eu levo-te, não me pareçe que estejas em condições de conduzir agora. - Saíram em direcção ao carro dele,e no caminho ela parecia a leste de tudo. Sem lhe perguntar nada,mas com inumeras perguntas a quererem saltar, sabia que a resposta não seria dada, logo surgiria a altura, mais cedo do que antecipava. Quando chegaram, assim que entraram na sala de espera, deu de caras com ele. Não estava em muito bom estado realmente, o bafo a alcoól denunciava desde logo a visão, sem ser preciso dizer nada. Era ele, não acreditava nos seus olhos, há anos que não o via, mas a feição continuava a mesma.
- Paulo?.... O que fazes aqui? - disse quase sem voz. - Como me encontraste?
- Cristina,sabia que virias....
Era o pai da Cláudia. Estava com uns olhos doridos,uma voz fraca, levada pela bebida fazia um tempo. - Continuas linda, sabias? - Incréula ainda, assaltavam-lhe pensamentos que não sabia explicar. - Estás um farrapo... O que te aconteceu? - Perguntou ela.
Pedro assistia a tudo de longe,tentando apanhar peças para o puzzle que se revelava.
- Já viste? Deus castigou-me.... Disse Paulo balbuciando as palavras.
continua...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VII

- Estou, Teresa? - Cristina decidira ligar à unica amiga que sabia de tudo. - Tens alguma coisa para fazer agora?
- Não, acabei agora mesmo de levar o Diogo ao infantário, queres ir beber um café e pôr a conversa em dia?Combinamos naquela pastelaria em frente à minha casa? Sabes que ninguém bate aqueles bolos.... - Pela voz dela, sabia logo que queria desabafar, conhecia-a melhor que ninguém.
- Dá-me meia hora, pode ser? Até já então.
Estiveram horas a conversar, Cristina contou-lhe tudo o que se passava, e a amiga ouviu tudo atenta, deixando-a falar primeiro. - Já terminaste? Presumo que queiras a minha opinião. - Cristina já esperava aquela atitude de Teresa, era uma mulher frontal mas muito amiga.
- Acho que te penintencias por algo que não tem razão de ser. Já o conheces há algum tempo, melhor que qualquer outra mulher. Ajudaste-o quando se separou, deste-lhe guarida nesse período, viste a dedicação que ele tem pelo filho,sempre te tratou com respeito. - As palavras dela faziam sentido.
- Não achas que está na altura de dares uma oportunidade a ti mesma? - As palavras dela foram abrindo caminho. Despediram-se e cada uma foi à sua vida.

Pedro estava magoado mas acima de tudo confuso com aquela atitude dela. Não percebia o porquê, e decidira que iria esperar que ela se manifestasse. No dias seguintes, cada vez que se viam os olhares falavam quase por si, mas nenhum dava o primeiro passo. Ele como sempre bem disposto e brincalhão, ela concentrada no trabalho.
Não admitia mas sentia falta das conversas, da presença dele.À medida que o tempo ia passando ia-se apercebendo cada vez mais da importância que ele tinha na vida dela, e como lhe custava a decisão que havia tomado.
Achava que se continuasse assim, acabaria por perder a oportunidade que a vida lhe estava a dar, então decidiu dar o primeiro passo. Encheu-se de coragem e ligou-lhe a combinar um almoço num restaurante perto da casa dele, já là tinham ido por diversas vezes.
- Estou, Pedro? é a Cristina, tudo bem?
- Olá Cristina!!! Que surpresa boa... Está sim, e contigo? - Estava surpreso, não era costuma ela ligar. - Aque devo a honra? - disse em tom de brincadeira.
- Estava a pensar irmos almoçar ao "Comidas e delicias", o que achas da ideia? - Receosa da reacção, nem sabia bem o que dizer. - Estás disponivel ou tens coisas combinadas? Como é em cima da hora...
- Sabes que para ti estou sempre disponivel, já devias de saber. A que horas ? - Respondeu ele com um tom de sorrisinho escondido e maroto.
- Por volta das 13:30h está bem?
- Está óptimo, encontramo-nos lá então?
- Combinado! Até já. - Cristina despediu-se com uma sensação de alívio, contrariamente ao que esperava o convite tinha sido aceite.


continua...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Uma rosa com espinhos...parte VI

Assim que ele saíu,as lágrimas começaram a correr pela face abaixo...Como poderia contar a Pedro, o homem que amava em segredo, a culpa que carregava? O que a assombrava? Jurara a si mesma que iria fechar a porta ao passado,nunca o revelando fosse para quem fosse, mesmo que significasse perder o amor da sua vida.

Tinha sido criada por uns tios austeros, onde desde miuda carregara o fardo de criar os primos mais novos, nunca tendo podido gozar a sua infância e adolescência como uma rapariga normal. O pai estava preso por tráfico de narcóticos e a mãe tinha-se entregue ao vício da droga, perdendo-se na vida,e sabendo que não tinha condições para a criar entregou-a a uma irmã antes de morrer numa esquina por overdose. Quando pôde se livrar daquela vida, alugou um quarto que pagava com muito custo, tentando estudar e trabalhar ao mesmo tempo, na tentativa de encontrar um rumo para a sua vida.

Arranjara um namorado por quem se perdera de amores e engravidara. Quando lhe contou a boa nova teve mais uma desilusão....Para além de descobrir ser casado, assim que soube desapareceu, deixando-a sózinha com uma criança no ventre. Lutadora como era, fez de tudo para criar a sua filha, trabalhando em dois sitios diferentes para que nada lhe faltasse, deixando a Cláudia numa ama.
Uma tarde recebeu um telefonema, o mais doloroso da sua vida.... Era a ama, lavada em lágrimas, a dizer que a Cláudia tinha adormecido e que passado umas horas sem acordar estranhara e tentou acordá-la, porém sem sucesso. Cristina não acreditava no que ouvia, não podia ser, era mentira!!!! Deus não podia estar a ser tão injusto com ela, levar a sua pedra preciosa tão nova, com pouco mais de um ano, o que mais amava na vida. Por mais que voasse para lá, não chegara a tempo....

O chão fugia-lhe dos pés, a dor era demasiada para que a pudesse aguentar, e numa noite desistira de tudo. Desistira de lutar, convençera-se de que não merecia viver e quis ir para junto dela,metendo-se no carro desesperada, louca de dor e raiva, e deixou o carro seguir em frente numa curva que sabia como perigosa. Pensara que assim veria Cláudia e poderia estar perto dela, mas o destino não quis que assim fosse.

Alguém vira o acidente e chamara de imediato o INEM, que num ápice chegou ao local, fazendo de tudo para a salvar. Esteve internada três meses, dois dos quais nos cuidados intensivos em coma, e da unica coisa que se lembrava daquela noite era de uma voz que puxava por ela, com palavras de incentivo e de desafio para que não partisse. Assim que recuperou, procurou aquela voz para lhe agradecer e ficou a conhecer o serviço que ele prestava. Pelas mãos de um paramédico, descobriu qual a sua missão, a de salvar quem precisava assim como ela mesma o havia sido.

Agarrou-se a essa missão e profissão com unhas e dentes, estando disposta a tudo para isso, achando que Deus a poupara para servir como seu anjo, mas nos dias de amargura, achava que tinha sido mais um castigo, mais um dos seus designíos, onde não tinha direito a ser feliz, apenas de fazer os outros.Fechara-se ás emoções e pessoas, menos para a sua missão.
Achava que se desse mais de si e se desse a conhecer, se se permitisse a amar,acabaria por perder de novo algo querido, e não toleraria mais nenhuma perda.

continua..

sábado, 31 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte V

Uma chamada havia sido registada nos serviços para uma criança com um quadro clinico de convulsões. Depois dos procedimentos normais,a chamada tinha sido passada para eles, e os unicos disponiveis eram ambos, sendo que ela despachara os colegas em outras urgências. Enfiaram-se como balas na ambulância e a caminho do local, entre os preparos de equipamento, ele fixou-a por momentos á espera de uma resposta....

- Não me ligaste.... - disse ele com uma voz meio receosa da resposta, meio inquieta á espera da mesma. - Estamos quase a chegar Pedro, concentra-te no que temos a fazer sim? - Não era bem o que ele esperava ouvir, mas tentou concentrar-se ao máximo,eram ambos conhecidos como a melhor equipa que a Central tinha, profissionais acima de tudo. Ao chegarem lá, contrariaram a sua inimiga nº 1 e devolveram uma menina de 2 anos aos pais que choravam convulsivamente, como se eles de anjos sem asas se tratassem e no caminho de volta, ela verteu uma lágrima, que tentou a todo o custo esconder, mas que ele reparara, como sempre atento e astuto.

Sabia que vindo dela, alguma razão tinha de ser, e não apenas porque gostava do que fazia, já a vira agir em casos bem mais graves onde ela não tinha vertido uma que fosse, mas sempre que a acompanhava em casos com crianças era de uma dureza implacável, mas quando tudo terminava, algo nela se mostrava sensível, sem saber bem o porquê de ser assim. Ele bem tentava sacar-lhe algo, mas eximiamente sempre se safava da situação, era mestra nisso,dando a entender que as crianças mexiam com ela a um nivel geral, mas estava determinado em conhecer mais daquela mulher que o punha a pensar e sonhar acordado....

Não sabia grande coisa do seu passado, só o que ela ia mostrando lentamente, ia tentando criar um quadro onde faltavam muitas peças no puzzle, mas não estava disposto a desisitir, não quando sentira que a tocara no fundo. No final do turno, já de manhã, esperou por ela em frente ao seu carro e estava disposto a não sair dali sem uma resposta, sem uma explicação....

- Porque não me respondes Cristina? - perguntou ele olhando-a, tentado perceber o distanciamento depois de uma noite como a que tinham passado juntos.
- Pedro, bebemos um pouco além da conta, estava carente assim como tu, vamos deixar as coisas como estão... - respondeu com a voz trémula, sem saber bem o que lhe dizer.
- Não aceito isso como resposta, desculpa. Vamos conversar um pouco, não é possivel que tenha sido assim, sei que tens algo para me dizer e evitas sem razão, por favor....
- Amanhã falamos melhor, combinado? Estou cansada, também deves estar, não é a melhor altura, entende.... - disse ela com pouca convicção, a sua vontade era chorar desalmadamente no seu peito, mas aprendera duramente com a vida a não mostrar o seu lado mais triste, e não ia ser agora que o iria fazer....
- Olha, só saio daqui depois de me convidares a beber um café, até lá não vou a lado nenhum, mas tu também não, agora escolhe teimosa....- E ela vendo que ele estava determinado e não a iria largar, assentiu.
- Está bem.... Mas não quero ir a nenhum café, bebemos algo quente lá em casa sim? Estou uma lástima e com o frio que está, não me apetece muito. - Os olhos verdes dele brilharam como se mais uma batalha estivesse ganha.

Ambos exaustos de mais um plantão, quando se sentaram e disfrutaram do café que mais sabia a champagne em noite de fim de ano, ela começou a perguntar pelo Ricardo, como estava, se tinha falado com ele nesse dia, e ele conheceçendo-a bem , notou logo que era mais uma artimanha para evitar assuntos dela, não que ela não se preocupasse com o filho dele,mas sabia como detectar as fugas dela. Era de uma preocupação constante com ele, conheçendo o amor incondiçional que Pedro tinha por ele, era um mulherengo, um bom vivant mas quando era a hora do Ricardo nada o abalava ou detinha, tudo paráva em torno dele, era a sua fonte de inspiração e contínua luta por tudo na vida.

- Conta-me porque choraste hoje, e não mintas que eu bem vi!
- Pedro, estás a ver coisas, o cansaço deturpa-te o pensamento...
- Não vale a pena Cristina, não fujas, vá, conta-me,eu quero saber e não saio daqui sem uma resposta plausível, e olha que te apanho a mentir num instante!!!! - brincou ele na tentativa de aliviar a tensão que se sentia na altura, dada a seriedade do tema.
Ela bem foi tentando fugir, mas ele foi bem peremptório e não desistia facilmente, apontando casos em que ela mostrara os seus sinais de sofrimento, deixando-a quase sem saída....
- São coisas minhas Pedro e por favor não insistas.
- Ainda não disseste porque não me telefonaste como pedi. Depois de uma noite como a nossa, pensei que ligasses, fiquei á espera.
- Temos uma relação de amizade que não quero estragar nem perder, acho que devemos deixar as coisas ficarem assim, e tentar esquecer....
- Esquecer???? Só podes estar a brincar, não acredito que me estejas a dizer para fazer de conta que não existiu nada! - Dizia Pedro sentido, não esperava isso dela.
- Tenho as minhas razões, e não volto atrás nelas. - Cristina estava com uma voz amarga e séria, quase se sentia uma certa dor ao proferi-las, deixando-o desorientado.
- O que se passa? Diz-me! Por favor confia em mim e deixa-me conhecer-te,tens tanto medo do quê?
- Acho melhor irmos descançar, ambos estamos a precisar.... - Despachando-o e terminando a conversa dessa maneira. Notou que algo se quebrara nele, o seu olhar estava triste e longe, e doía-lhe que assim fosse, mas achava que era o melhor.
continua....