sábado, 31 de janeiro de 2009

Uma rosa com espinhos.. - parte V

Uma chamada havia sido registada nos serviços para uma criança com um quadro clinico de convulsões. Depois dos procedimentos normais,a chamada tinha sido passada para eles, e os unicos disponiveis eram ambos, sendo que ela despachara os colegas em outras urgências. Enfiaram-se como balas na ambulância e a caminho do local, entre os preparos de equipamento, ele fixou-a por momentos á espera de uma resposta....

- Não me ligaste.... - disse ele com uma voz meio receosa da resposta, meio inquieta á espera da mesma. - Estamos quase a chegar Pedro, concentra-te no que temos a fazer sim? - Não era bem o que ele esperava ouvir, mas tentou concentrar-se ao máximo,eram ambos conhecidos como a melhor equipa que a Central tinha, profissionais acima de tudo. Ao chegarem lá, contrariaram a sua inimiga nº 1 e devolveram uma menina de 2 anos aos pais que choravam convulsivamente, como se eles de anjos sem asas se tratassem e no caminho de volta, ela verteu uma lágrima, que tentou a todo o custo esconder, mas que ele reparara, como sempre atento e astuto.

Sabia que vindo dela, alguma razão tinha de ser, e não apenas porque gostava do que fazia, já a vira agir em casos bem mais graves onde ela não tinha vertido uma que fosse, mas sempre que a acompanhava em casos com crianças era de uma dureza implacável, mas quando tudo terminava, algo nela se mostrava sensível, sem saber bem o porquê de ser assim. Ele bem tentava sacar-lhe algo, mas eximiamente sempre se safava da situação, era mestra nisso,dando a entender que as crianças mexiam com ela a um nivel geral, mas estava determinado em conhecer mais daquela mulher que o punha a pensar e sonhar acordado....

Não sabia grande coisa do seu passado, só o que ela ia mostrando lentamente, ia tentando criar um quadro onde faltavam muitas peças no puzzle, mas não estava disposto a desisitir, não quando sentira que a tocara no fundo. No final do turno, já de manhã, esperou por ela em frente ao seu carro e estava disposto a não sair dali sem uma resposta, sem uma explicação....

- Porque não me respondes Cristina? - perguntou ele olhando-a, tentado perceber o distanciamento depois de uma noite como a que tinham passado juntos.
- Pedro, bebemos um pouco além da conta, estava carente assim como tu, vamos deixar as coisas como estão... - respondeu com a voz trémula, sem saber bem o que lhe dizer.
- Não aceito isso como resposta, desculpa. Vamos conversar um pouco, não é possivel que tenha sido assim, sei que tens algo para me dizer e evitas sem razão, por favor....
- Amanhã falamos melhor, combinado? Estou cansada, também deves estar, não é a melhor altura, entende.... - disse ela com pouca convicção, a sua vontade era chorar desalmadamente no seu peito, mas aprendera duramente com a vida a não mostrar o seu lado mais triste, e não ia ser agora que o iria fazer....
- Olha, só saio daqui depois de me convidares a beber um café, até lá não vou a lado nenhum, mas tu também não, agora escolhe teimosa....- E ela vendo que ele estava determinado e não a iria largar, assentiu.
- Está bem.... Mas não quero ir a nenhum café, bebemos algo quente lá em casa sim? Estou uma lástima e com o frio que está, não me apetece muito. - Os olhos verdes dele brilharam como se mais uma batalha estivesse ganha.

Ambos exaustos de mais um plantão, quando se sentaram e disfrutaram do café que mais sabia a champagne em noite de fim de ano, ela começou a perguntar pelo Ricardo, como estava, se tinha falado com ele nesse dia, e ele conheceçendo-a bem , notou logo que era mais uma artimanha para evitar assuntos dela, não que ela não se preocupasse com o filho dele,mas sabia como detectar as fugas dela. Era de uma preocupação constante com ele, conheçendo o amor incondiçional que Pedro tinha por ele, era um mulherengo, um bom vivant mas quando era a hora do Ricardo nada o abalava ou detinha, tudo paráva em torno dele, era a sua fonte de inspiração e contínua luta por tudo na vida.

- Conta-me porque choraste hoje, e não mintas que eu bem vi!
- Pedro, estás a ver coisas, o cansaço deturpa-te o pensamento...
- Não vale a pena Cristina, não fujas, vá, conta-me,eu quero saber e não saio daqui sem uma resposta plausível, e olha que te apanho a mentir num instante!!!! - brincou ele na tentativa de aliviar a tensão que se sentia na altura, dada a seriedade do tema.
Ela bem foi tentando fugir, mas ele foi bem peremptório e não desistia facilmente, apontando casos em que ela mostrara os seus sinais de sofrimento, deixando-a quase sem saída....
- São coisas minhas Pedro e por favor não insistas.
- Ainda não disseste porque não me telefonaste como pedi. Depois de uma noite como a nossa, pensei que ligasses, fiquei á espera.
- Temos uma relação de amizade que não quero estragar nem perder, acho que devemos deixar as coisas ficarem assim, e tentar esquecer....
- Esquecer???? Só podes estar a brincar, não acredito que me estejas a dizer para fazer de conta que não existiu nada! - Dizia Pedro sentido, não esperava isso dela.
- Tenho as minhas razões, e não volto atrás nelas. - Cristina estava com uma voz amarga e séria, quase se sentia uma certa dor ao proferi-las, deixando-o desorientado.
- O que se passa? Diz-me! Por favor confia em mim e deixa-me conhecer-te,tens tanto medo do quê?
- Acho melhor irmos descançar, ambos estamos a precisar.... - Despachando-o e terminando a conversa dessa maneira. Notou que algo se quebrara nele, o seu olhar estava triste e longe, e doía-lhe que assim fosse, mas achava que era o melhor.
continua....

10 comentários:

  1. Está cada vez mais interessante :) à espera de mais... ;)

    beijinho

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  2. Alguém,és um amor...obrigada por ires lendo.
    um bj ao luar

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  3. Existe um cerzir de emoções sob o pano do nosso dia a dia (ou neste caso noite a noite), mas o leitor precisa de espaço, de soltar a imaginação e ser levado a adivinhar. Precisa de desenvolver as suas próprias emoções, as que decorrem dessa descoberta. Por isso o narrador não deve ser demasiado explicativo, nem demasiado fechado sobre as personagens.

    Uma mulher não muito convencida a convidar o homem para um café lá em casa? A ficção é prodigiosa! (Realmente, se as mulheres não se conhecem a si mesmas, que hipóteses temos nós?)

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  4. António, a vantagem do blog é precisamente o recolher de opiniões diversas sobre a narração e poder aprender, limar arestas e melhorar com elas. Foi por isso mesmo que o criei, e no qual agradeço imenso e aprecio a tua opinião.
    Quanto ao facto de ter surgido o convite,no inicío da história foi escrito que a casa era sobejamente conhecida,não foi por acaso. Se fosse um romance entre 2 desconhecidos, o convite soaria no minimo a estranho e atrevido, mas a história tem outros contornos..
    um sincero obrigada pelas ideias, dicas e opiniões, serão frutíferas.
    um bj ao luar...

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  5. Salto-Alto,espero que assim continue...
    um bj ao luar

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  6. A minha observação sobre o encontro era, como percebeste, uma brincadeira (com alguma maldade).

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  7. António,e deixa que te diga que maliciosamente apanhei a brincadeira ;)
    um bj ao luar

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  8. Tens realmente "aquilo".. é um prazer ler-te.. será imaginação minha ou tu és a "Cristina"? ;) Já agora, Pedro.. foi alguém importante para ti? Estarei a querer saber demais? A culpa é tua.. n páres assim na melhor parte.. ;)

    Beijinhos daqueles bem azulinhos!

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  9. Olá.. n me respondeste.. estás no teu direito, mas olha q há silêncios q dizem mto.. ;)

    Beijinho e parabéns pela tua história..

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